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porque tudo é um excesso

Continuação de trás para a frente; ou será de frente para trás?

Continuação de trás para a frente; ou será de frente para trás?

porque tudo é um excesso

19
Mai23

Tudo, um excesso

excessiva

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Excesso de dor, excesso de horror;

Excesso de lucidez e excesso de emoção;

Sede a mais perante uma vida que é cada vez menos; desencontro permanente.

Desilusão demasiado profunda, que cavou um buraco de dor fundo demais.

O mundo é excessivamente mau, causado por homens pérfidos, cegos de ganância.

O crime compensa. Fugir às responsabilidades compensa.

É o filho da puta que sai a ganhar, vezes demais.

Excessiva impunidade para quem tem dinheiro para comprar uma justiça feita à sua medida.

Excessivo sofrimento. De tanta gente! De tantos animais!

Sem redenção. Tudo para deitar ao lixo.

Sou um excesso que não cabe em mim, que ameaça destruir-me completamente. A partir de dentro.

19
Fev23

Estranheza

excessiva

quadro Tiago.jpg

 

Tudo me é estranho e me é outro.

Renuncio ao mundo e à gente que nele há.

Já habito outro sítio, já não estou aí.

Expulsa de tudo o que vivi no passado,

Não tenho nada daquilo que fui.

Disforme é a realidade, que dói e range.

Sem forma, os outros esvaem-se lá longe.

Somos sozinhos em nós e estamos sós no mundo.

E tudo me é cada vez mais estranho.

 

 

02
Nov22

Fé? Em quê?

excessiva

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A partir do momento em que me morreu o último resquício de fé em deus, a única coisa em que tinha fé era no amor. Acreditei verdadeiramente na força e na verdade do amor. Tinha-me acontecido, de forma avassaladora e absoluta, eu experimentava a felicidade de amar e ser amada, da entrega mútua, da cumplicidade maior do mundo.

Essa fé (irracional, claro está) manteve-se acesa, como uma vela que ninguém consegue apagar. Nem ninguém nem nada. A fé é estúpida, já se sabe. Em nome dessa fé no amor, que eu verdadeiramente sentia, suportei anos de infelicidade e angústia, aceitei o abandono como uma fase que não podia pôr o "sagrado" amor em causa. Se calhar sou demasiado leal, até ao ponto de suportar tudo em nome do amor. Que só pus verdadeiramente em causa quando a realidade se me esfregou na cara de uma forma tão brutal que fiquei sem chão.

Desde aí, lá se foi a única fé que eu tinha!...

Quando me vi sem amor, quando fiquei sem nada, e quando todos me falharam, perdi totalmente a fé no amor, como algo sagrado ou entidade metafísica (como se fosse um nirvana para quem não é budista nem cristão nem nada).

Nunca mais pude voltar a crer no amor absoluto e que transcenda a merda das coisas que nos acontecem na vida.

Não, não é para sempre. Talvez exceto para mim, que permaneço escrava de afetos que não dependem da minha vontade racional? Qual exceção qual quê; é só demência.

Não, eu nunca fui normal.

Mas, assim, será que sobra qualquer coisa que se pareça com o amor? Sobram alguns amores. Mas já sei que nenhum é garantidamente sempre e para sempre.

23
Abr22

25, noite da liberdade

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Ver a imagem de origem

 

Há 15 anos já, uma certa noite da liberdade ficou memorável.

Dos que nela estiveram, a uma deixei eu e o outro deixou-me.

Mas não me deixou a memória dessa noite mágica, em que caímos nos braços uns dos outros, de coração transbordante. Transbordava de amor, nessa altura, tanto com o que me davam como do amor que sentia. Lembro-me de caminhar pelos corredores e de sorrir toda, por dentro e por fora.

Soltar a vontade, deixar que ela nos leve onde queremos. Viva a liberdade.

17
Abr22

Sem paz

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Ver a imagem de origem

 

Inquietação ou desassossego.

As palavras existem, mas não cobrem tudo o que dizem. Sem quietude e sossego.

Sem paz. Uma paz de dentro.

Nunca em paz, desde criança. Se nessa altura temia uma fúria do meu pai e tinha medo de perder o amor da minha mãe, hoje, apesar de já estar fora do seu alcance imediato, estou tão marcada por essa incerteza e temor, que nunca mais me largaram e serviram de alimento às inquietações posteriores.

Nem nas desistências encontro paz. Podia pôr fim à inquietação, dado que desisto de lutar ou de querer. Mas não, até a torna mais intensa, mais nauseante.

Quando luto, o desassossego dá força à luta, mas também me faz questionar se a luta vale a pena. É como se eu conseguisse duplicar-me e ver, de fora, o que eu estou a fazer. Aí pergunto-me: vale a pena o esforço?

Se desisto de lutar, é a minha tendência para a determinação e teimosia que me assalta com outras perguntas e respostas, provocando-me um sofrimento amargo.

Estou na vida inquieta para dela partir. Nunca sei se se passa o que eu penso que acontecerá, quer nas pessoas quer no mundo. E sempre neste frenesim de nervos e carne, porque desde que o meu mundo desabou "só quero quem eu nunca vi, porque só quero quem não conheci", o desencontro é da vontade com a necessidade.

É sempre esta falta, esta carência, este abismo. É sempre esta fome, esta insatisfação, esta agitação. Sempre aquém. De quê? De mim, da minha idealização de mim própria, da vida e dos outros? Do que desejo?

E a inquietação última: estarei a viver a vida que devo? O que é que eu desejo?

E perante a ausência de metas, sinto-me ansiosa. Para encontrar alguma ou para me evadir? Não sei e não consigo sossegar.

Não tenho paz comigo.

 

02
Jan22

Caindo em 2022

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Entrei neste ano a dar uma valente queda. Logo nos primeiros minutos. Ainda a sinto e, como alguém disse, foi um acontecimento marcante. As marcas ficarão visíveis, talvez, até ao fim do ano. A dar sorte, acrescentou alguém.

Mas será que espero alguma coisa da vida ainda?

Perdi o apetite pela vida. Que é como quem diz, não tenho desejos para realizar nem sonhos por cumprir. 

Nem escrever um livro, nem ser feliz. Já desisti de desejar ser feliz.

Os meus momentos de prazer e felicidade são vividos com as minhas pessoas. Poucas. Cada vez menos. São, a par da anestesia da mente, o que me mantém cá.

Vou parar de me anestesiar. Vai doer horrorosamente durante alguns dias.

Toda a dor de ser e viver vai surgir inteira, sem filtro ou atenuante algum. 

Sei que vai ser tremendo, mas tenho uma ou duas bengalas em que penso apoiar-me. As minhas pessoas com cauda vão ser especialmente mimadas e vou tentar ler. Em último recurso, meto-me na cama com os meus companheiros e durmo.

Tudo se resume afinal nisto: conseguirei levantar-me?

26
Dez21

Que o amor nos salve

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“Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida”, disse Pablo Neruda.

Tão bem pensado.

Que o amor nos salve da vida, nos resguarde da crueldade que a vida comporta, que nos proteja do absurdo de existir sem valor e sem sentido.

Que o amor nos justifique o esforço de continuar vivendo, depois de cada desilusão. Que o amor nos ponha a salvo da arbitrariedade da vida.

Que seja uma âncora que nos prenda a algo, apesar dos horrores que a vida nos reserva.

Que o amor seja o nosso porto de abrigo, como o aconchego do ninho ou o conforto de um banho quente.

É que, sem amor, nada nos salva da dor de saber o que este mundo contém, de enfrentar o que os homens são capazes.

Sem amor, ficamos à mercê do absurdo, do desespero, do horror, perante a consciência do que ignoramos e do mal que fazemos.

Que o amor nos salve de nós.

22
Dez21

Do que não se sabe... é melhor calar.

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Mas o que é que tu sabes de amor para falares dele com tanta pose?

Referes-te ao "amor" egoísta que sentes por aqueles que te dão amor? Mal se passa algum vendaval dentro de ti, esquece-los logo e ignoras que o que sentem por ti os faz sofrer.

Eles que te sigam se querem saber de ti, que tu viras as costas e vais.

Só te alcançam quando tu te estampas e cais, desvalido. Aí, necessitado de tudo, reparas naqueles que te fazem bem e até te sentes compelido a corresponder (na medida das tuas possibilidades e enquanto precisares deles).

Não fales de amor, tu não conquistaste esse direito. Que sabes tu de amor?

Amor incondicional? Tu lá sabes o que isso é!

Se não soubeste amar o "amor da tua vida", o que é que isso significa para ti?

Se abandonaste a tua melhor amiga e a pisaste antes de ir, o que é incondicional para ti?

Cala-te, fraude. Cala-te, pavão ridículo.

Não vês que as tuas palavras não rimam com o que tu fazes?

 

 

28
Set21

Cansada

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"Estou cansada de ser uma pessoa. Não apenas cansada de ser a pessoa que eu era, mas qualquer pessoa. Gosto de ver as pessoas, mas não gosto de falar com elas, lidar com elas, agradar-lhes ou ofender. Estou cansada."
Susan Sontag
 
Estou cansada de ser uma pessoa. É isso mesmo. De ser pessoa.
E, sim, só sei o que é ser pessoa por dentro, de dentro de mim.
Estou cansada de mim, qualquer que eu seja.
Estou por aí encostada aos dias, deslizando através deles, acordando e adormecendo, dia após dia.
Corro de compromisso em compromisso, cumpro tarefas, faço coisas, mas já não estou inteira no que faço. 
04
Ago21

Tu

excessiva

Cavaste uma cova no meu peito, tão funda que não sei sair dela.

Deixaste-me sem escada, sem fôlego, sem nada.

Tiraste-me tudo a que me podia agarrar.

 

Roubaste-me o meu melhor amigo, o meu porto seguro, o meu refúgio.

Mataste a confiança que me tinha custado tanto a criar.

Apagaste a luz que, acesa, mantinha um caminho à vista.

Acabaste, definitivamente, com a minha fé nos outros.

 

Rasgaste o meu amor próprio em mil pedaços.

Lançaste às chamas todos os meus ideais e o sentido que eu tinha dado à minha vida.

Reduziste quase toda a minha vida a um triste engano. 

Perdi tudo, contigo.

 

 

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