![Ver a imagem de origem]()
Inquietação ou desassossego.
As palavras existem, mas não cobrem tudo o que dizem. Sem quietude e sossego.
Sem paz. Uma paz de dentro.
Nunca em paz, desde criança. Se nessa altura temia uma fúria do meu pai e tinha medo de perder o amor da minha mãe, hoje, apesar de já estar fora do seu alcance imediato, estou tão marcada por essa incerteza e temor, que nunca mais me largaram e serviram de alimento às inquietações posteriores.
Nem nas desistências encontro paz. Podia pôr fim à inquietação, dado que desisto de lutar ou de querer. Mas não, até a torna mais intensa, mais nauseante.
Quando luto, o desassossego dá força à luta, mas também me faz questionar se a luta vale a pena. É como se eu conseguisse duplicar-me e ver, de fora, o que eu estou a fazer. Aí pergunto-me: vale a pena o esforço?
Se desisto de lutar, é a minha tendência para a determinação e teimosia que me assalta com outras perguntas e respostas, provocando-me um sofrimento amargo.
Estou na vida inquieta para dela partir. Nunca sei se se passa o que eu penso que acontecerá, quer nas pessoas quer no mundo. E sempre neste frenesim de nervos e carne, porque desde que o meu mundo desabou "só quero quem eu nunca vi, porque só quero quem não conheci", o desencontro é da vontade com a necessidade.
É sempre esta falta, esta carência, este abismo. É sempre esta fome, esta insatisfação, esta agitação. Sempre aquém. De quê? De mim, da minha idealização de mim própria, da vida e dos outros? Do que desejo?
E a inquietação última: estarei a viver a vida que devo? O que é que eu desejo?
E perante a ausência de metas, sinto-me ansiosa. Para encontrar alguma ou para me evadir? Não sei e não consigo sossegar.
Não tenho paz comigo.